Gaby Spanic abre o jogo no Brasil: música, luto e o carinho do público

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set

Gaby Spanic abre o jogo no Brasil: música, luto e o carinho do público

Uma visita que virou reencontro com o público brasileiro

Não é todo dia que uma personagem de novela vira sinônimo de uma geração. Com a dupla Paulina/Paola de A Usurpadora, Gaby Spanic fez isso e seguiu adiante. Na passagem pelo Brasil, em agosto de 2025, a atriz e cantora venezuelana mostrou que a carreira vai muito além do papel que a consagrou. Em uma semana de entrevistas, ela abriu o coração sobre música, família, luto e a relação com os fãs daqui — uma conversa franca que ajudou a explicar por que seu nome segue tão vivo no imaginário latino.

A agenda começou no dia 13 de agosto, no Companhia Certa, com Ronnie Von. Foi ali que ela puxou o fio da própria história musical: a infância cantando na igreja, ao lado da mãe e de outros familiares, e a casa onde instrumento e voz sempre tiveram lugar. Spanic contou que a mãe, que tocava violão e percussão, morreu de câncer há quase quatro anos — uma lembrança dolorida que, segundo ela, também virou combustível para a arte.

Esse passado montou a base do presente. Ao falar do set de gravação, ela explicou que a música não ficou do lado de fora do estúdio: compôs canções para novelas e chegou a escrever para uma produção na Telemundo. O trabalho como cantora e compositora anda junto com a atriz que o público conhece. “Sou muito romântica”, resumiu. E essa veia romântica aparece nas letras, no jeito de cantar e no cuidado com as histórias que escolhe contar.

No dia 14, foi a vez do programa Mulheres receber a artista. A conversa ampliou o recorte: trajetória, mudanças ao longo dos anos e a decisão de não se limitar a um único rótulo. Em vez de repetir rascunhos do passado, Spanic falou sobre processos — do estudo constante à disciplina de quem já viveu diferentes fases da televisão e quer seguir relevante. O interesse do público não ficou no passado: a plateia atual conhece A Usurpadora por reprises e redes sociais, mas também por enxergar nela alguém que continua produzindo.

Do estúdio para a rua. Em 16 de agosto, Spanic participou do Em Movimento e assumiu o encantamento com o Espírito Santo. Entre gravações, ela aproveitou a passagem para conhecer pontos locais e visitar uma clínica estética. Sem glamourização: parte do roteiro de quem viaja a trabalho é se cuidar e, quando dá, tirar um tempo para sentir a cidade — comer algo típico, caminhar à beira-mar, observar o ritmo do lugar. A experiência ajudou a aproximar ainda mais a artista do público capixaba.

Essa sintonia tem explicação. O Brasil tem história com novelas latinas, e A Usurpadora virou um caso à parte: reprise virou ritual doméstico, bordões migraram para memes e a trama passou de televisão para memória afetiva. Quando Spanic volta a falar disso aqui, não é só nostalgia. É um diálogo entre gerações: quem assistiu na TV aberta, quem descobriu anos depois por streaming ou redes, e quem chegou agora, atraído pela curiosidade em torno do fenômeno.

Também pesa o estilo de comunicação da atriz. Nas entrevistas, ela não evitou temas sensíveis. Ao mencionar a morte da mãe, conectou dor e criação artística sem posar de heroína. Para muita gente, ouvir uma figura pública admitir fragilidades e transformá-las em música traz identificação. Não é frase de efeito: é um lembrete de que fama não blinda ninguém, e que a arte, às vezes, nasce exatamente do que não sabemos resolver sozinhos.

Ao mesmo tempo, Spanic reforçou a imagem de artista múltipla. Há quem a conheça pelo jogo de vilã e mocinha, mas a música esteve em segundo plano por tempo demais. O bastidor que ela revelou — compor para trilhas, participar do desenho musical de novelas — mostra como o audiovisual latino funciona: canções ajudam a costurar tramas, dar ritmo a emoções e segurar a audiência. Quando a intérprete é também autora, a história ganha outra camada.

Os três compromissos no Brasil também dizem algo sobre televisão e relevância. Ronnie Von é um anfitrião clássico de entrevistas em que a conversa flui sem pressa. O Mulheres virou referência em receber artistas e tratar de carreira e cotidiano de forma direta. E o Em Movimento, com seu recorte de cidade e comportamento, ajuda a captar humor local. Spanic circulou por todos esses espaços com um objetivo claro: falar de trabalho, mas sem se esconder atrás de clichês.

Para quem perdeu a sequência, a semana foi assim:

  1. 13 de agosto: Companhia Certa (Ronnie Von) — raízes musicais, família e a relação com a igreja.
  2. 14 de agosto: Mulheres — trajetória, reinvenção e o lugar da música no presente.
  3. 16 de agosto: Em Movimento — encantamento com o Espírito Santo e visita a uma clínica estética.

O efeito imediato foi reativar a conversa sobre sua obra. Redes sociais resgataram cenas, compararam fases, lembraram trilhas. Produtores e fãs voltaram a perguntar: vem show? Vem colaboração? A atriz não cravou anúncios, mas deixou claro que compor e cantar seguem no plano de voo. E, pela forma como respondeu, não soa como projeto paralelo; é parte do que ela entende por carreira hoje.

Mais do que um giro promocional, a passagem pelo Brasil serviu como termômetro. Há apetite por artistas que atravessam linguagens, e a TV aberta ainda tem fôlego para recolocar nomes no centro do debate cultural. Quando esse movimento se combina com uma história conhecida — um papel marcante, trechos que viraram patrimônio pop —, o resultado costuma ser audiência e engajamento.

Spanic sabe lidar com isso. Ela não tenta apagar a sombra longa de A Usurpadora; usa a favor. Ao mesmo tempo, insiste na persona musical e na ideia de que o público pode gostar de mais de uma versão da mesma artista. É um equilíbrio delicado: entregar o que os fãs lembram e apresentar o que eles talvez nem conheçam.

E tem a camada pessoal, que atravessa tudo. Falar da mãe, da igreja, do aprendizado dentro de casa dá contorno a algo que, no fim, é simples: a formação afetiva de uma cantora e atriz que encontrou na TV um palco gigante, mas não abre mão do microfone. A visita ao Espírito Santo, as entrevistas e os encontros nos bastidores mostram um ciclo que recomeça — com trabalho, afeto e repertório.

Se a pergunta é por que Gaby Spanic ainda mobiliza tanta gente no Brasil, a resposta passa por memória, talento e presença. Ela preserva a personagem que virou ícone, mas atualiza a narrativa sempre que aparece. E quando a conversa traz música, luto, rotina e esperança para o mesmo plano, o público escuta. Porque reconhece quem está falando, e porque a história, contada desse jeito, ainda tem muito a render.