Na tarde de domingo, 9 de novembro de 2025, um terremoto de magnitude 6,9 sacudiu a costa nordeste do Japão, desencadeando um alerta de tsunami que chegou a prever ondas de até um metro — mas que, na prática, se limitou a uma onda de apenas 10 centímetros no porto de Ofunato. O epicentro foi registrado próximo a Morioka, na província de Iwate, com tremores sentidos também em Yahaba e Wakuya. A Agência Meteorológica do Japão (JMA) emitiu o alerta às 17:03, hora local, e menos de dez minutos depois já detectava um sinal fraco de tsunami a 70 quilômetros da costa. A situação parecia grave — mas, curiosamente, não houve feridos, nem danos estruturais significativos. Ainda assim, o caos foi real: o East Japan Railway Company interrompeu temporariamente o serviço da linha Tohoku Shinkansen entre Sendai e Shin-Aomori por causa de uma queda de energia. E isso foi só o começo.
Um segundo choque, menos de 24 horas depois
Na segunda-feira, 10 de novembro, às 16:23 JST, quase exatamente um dia depois, outro terremoto — desta vez de magnitude 6,2 — voltou a sacudir a mesma região. A profundidade? Apenas 10 quilômetros. Isso significa que, mesmo sendo menos potente, a vibração foi mais intensa na superfície. A JMA voltou a emitir um alerta de tsunami, mas desta vez com previsão de variações de até 20 centímetros no nível do mar. Menos alarmante, mas ainda assim suficiente para manter as autoridades em estado de alerta. Nenhuma vítima, nenhum prédio derrubado, nenhuma estrada danificada. Mas a população, já em estado de tensão, voltou a correr para áreas mais altas. "Foi como se a terra tivesse resfolegado duas vezes seguidas", disse uma moradora de Iwate à imprensa local. "A primeira vez já foi suficiente. A segunda... a gente só olhou para o teto e esperou.""Por que essa região é tão vulnerável?
O Japão vive em cima de uma das zonas mais ativas do planeta: o Círculo de Fogo do Pacífico. Aqui, quatro placas tectônicas — a do Pacífico, a de Okhotsk, a de Filipinas e a do continente Eurasiano — se esfregam, se subduzem, se empurram. Resultado? Cerca de 1.500 terremotos por ano. A maioria é imperceptível. Mas alguns, como os deste fim de semana, são lembrados. A província de Iwate já foi palco do tsunami de 2011, quando mais de 15 mil pessoas morreram. Desde então, o país investiu bilhões em sistemas de alerta, barragens subterrâneas e treinamento contínuo da população. O que vimos neste fim de semana? Um sistema funcionando. O alerta foi emitido em segundos. As estações de trem pararam. Os moradores ouviram as sirenes e agiram. E mesmo assim, o maior dano foi psicológico: o medo de que o pior ainda não tenha acontecido.Como foi a resposta das autoridades?
A Agência Meteorológica do Japão foi rápida, precisa e transparente. Em menos de 15 minutos após o primeiro tremor, já havia atualizado a magnitude de 6,7 para 6,9 — um ajuste pequeno, mas crucial para a precisão dos modelos de tsunami. O mesmo aconteceu com o segundo evento: em vez de manter o pânico, a JMA especificou que a variação esperada era de apenas 20 cm, o que, embora visível, não representa risco de inundação. A East Japan Railway Company também agiu com cautela: a suspensão do trem-bala foi um gesto de responsabilidade, não de pânico. Operações foram retomadas após inspeções de segurança, mas o horário exato não foi divulgado — sinal de que a prioridade foi a segurança, não a pontualidade. "Nós não corremos riscos com vidas", disse um porta-voz da empresa em comunicado. "Se a terra treme, nós paramos. Ponto final.""Os efeitos reais: o que aconteceu de verdade?
Na prática, o que se viu foi um fenômeno raro: dois terremotos fortes em 24 horas, com alertas de tsunami, e zero mortes, zero feridos, zero danos estruturais. Isso não é sorte. É resultado de décadas de preparação. Em Morioka, escolas realizam drills mensais. Em Ofunato, casas são construídas sobre pilares elevados. As sirenes de tsunami não são apenas sons — são hábitos. A onda de 10 cm que atingiu o porto foi registrada por sensores, mas não chegou a molhar os pés de ninguém. E mesmo assim, o governo mantém o alerta. "É melhor ser acusado de exagero do que de negligência", disse um engenheiro sismológico ao jornal Asahi Shimbun. "Aqui, a cultura da prevenção é mais forte que a cultura da surpresa.""O que vem a seguir?
A Agência Meteorológica do Japão continua monitorando a região para possíveis réplicas. Embora os terremotos deste fim de semana não sejam considerados precursoras de um grande evento, a história mostra que, em zonas de alta atividade, pequenos tremores podem preceder outros maiores — ou não. O que é certo? A população está mais alerta. Os sistemas estão mais sensíveis. E os cientistas já começam a analisar os dados para entender por que dois eventos tão próximos ocorreram em sequência. Um fenômeno chamado "acoplamento tectônico" pode estar envolvido: quando uma placa se move, ela transfere pressão para outra. Pode ser isso. Pode ser coincidência. Mas o Japão não espera por respostas. Ele se prepara.Frequently Asked Questions
Como o Japão consegue evitar mortes em terremotos tão fortes?
O Japão investe pesado em infraestrutura sísmica: prédios com amortecedores, trens que param automaticamente, sirenes que disparam em segundos e treinamentos escolares mensais. Além disso, o sistema de alerta precoce detecta ondas P (menos danosas) antes das ondas S (destrutivas), dando até 20 segundos de aviso. Isso permite que pessoas se protejam, máquinas parem e sistemas críticos se desliguem. A cultura da prevenção é tão profunda que até crianças sabem o que fazer.
Por que o alerta de tsunami foi emitido se a onda foi tão pequena?
A Agência Meteorológica do Japão usa modelos preditivos baseados em dados históricos e em tempo real. Mesmo que a onda final seja pequena, o sistema não pode arriscar. Em 2011, um alerta inicial subestimou a altura das ondas — e o custo foi catastrófico. Hoje, é melhor emitir um alerta falso do que perder vidas por falta de aviso. A onda de 10 cm registrada em Ofunato foi um sinal de que o modelo funcionou: o alerta foi acionado, e o resultado foi menos grave que o previsto.
O que significa a profundidade de 10 km para esses terremotos?
Terremotos rasos — abaixo de 30 km — tendem a causar mais danos na superfície porque a energia não se dissipa tanto antes de chegar ao solo. Embora o terremoto de 6,9 não tenha sido o mais forte da história do Japão, sua profundidade de 10 km fez com que a vibração fosse sentida com mais intensidade em cidades como Morioka e Sendai. É por isso que tremores mais fracos, mas rasos, podem ser mais preocupantes que os profundos e mais fortes.
Há risco de mais terremotos na região?
Sim. A região de Iwate e Miyagi é historicamente ativa e já sofreu grandes abalos em 2011 e em 2008. A Agência Meteorológica do Japão alerta que réplicas são comuns após eventos principais, e embora nenhum tremor significativo tenha ocorrido desde segunda-feira, o monitoramento continua 24 horas por dia. A população é orientada a manter kits de emergência e a não confiar em "paz temporária" — no Japão, o silêncio da terra pode ser a calma antes da tempestade.
Por que o trem-bala foi interrompido?
O sistema de segurança do Tohoku Shinkansen é programado para parar automaticamente em caso de qualquer anomalia sísmica. Mesmo que não haja danos visíveis, o risco de trilhos deformados, falhas elétricas ou colisões em túneis é real. A East Japan Railway Company prioriza segurança acima de pontualidade — e isso é uma das razões pelas quais o trem-bala japonês tem uma taxa de acidentes praticamente zero. A suspensão durou horas, mas foi essencial para garantir que nenhum passageiro corresse risco.